Rosa-dos-Ventos

No livro da vida não se volta quando se quer, a página já lida, para melhor entendê-la;
nem pode se fazer a pausa necessária à reflexão.
Os acontecimentos nos tornam e nos arrebatam às vezes tão rapidamente
que nem deixam volver um olhar ao caminho percorrido.
(José de Alencar, in Lucíola)

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sábado, 31 de outubro de 2009

O Pequeno Príncipe - no deserto


O principezinho, uma vez na Terra, ficou, pois, muito surpreso de não ver ninguém. Já receara ter se enganado de planeta, quando um anel cor de lua remexeu na areia.
- Boa noite, disse o principezinho, inteiramente ao acaso.
- Boa noite, disse a serpente.
- Em que planeta me encontro? perguntou o principezinho.
- Na Terra, na África, respondeu a serpente.
- Ah!... E não há ninguém na Terra?
- Aqui é o deserto. Não há ninguém nos desertos. A Terra é grande, disse a serpente.

O principezinho sentou-se numa pedra e ergueu os olhos para o céu:
- As estrelas são todas iluminadas... Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua? Olha o meu planeta: está justamente em cima de nós... Mas como está longe!
- Teu planeta é belo, disse a serpente. Que vens fazer aqui?
- Tive dificuldades com uma flor, disse o príncipe.
- Ah! exclamou a serpente.

E se calaram.

– Onde estão os homens? repetiu enfim o principezinho. A gente está um pouco só no deserto.
– Entre os homens também, disse a serpente.

O principezinho olhou-a longamente.
- Tu és um bichinho engraçado, disse ele, fino como um dedo...
- Mas sou mais poderosa do que o dedo de um rei, disse a serpente.



 O principezinho sorriu.
- Tu não és tão poderosa assim... não tens sequer umas patas... não podes sequer viajar...
- Eu posso levar-te mais longe que um navio, disse a serpente.

Ela enrolou-se na perninha do príncipe, como um bracelete de ouro:
- Aquele que eu toco, eu o devolvo à terra de onde veio, continuou a serpente. Mas tu és puro. Tu vens de uma estrela...

O principezinho não respondeu.
- Tenho pena de ti, tão fraco, nessa Terra de granito. Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade do teu planeta. Posso...
- Oh! Eu compreendi muito bem, disse o principezinho. Mas por que falas sempre por enigmas?
- Eu os resolvo todos, disse a serpente.

E calaram-se os dois.

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