Rosa-dos-Ventos

No livro da vida não se volta quando se quer, a página já lida, para melhor entendê-la;
nem pode se fazer a pausa necessária à reflexão.
Os acontecimentos nos tornam e nos arrebatam às vezes tão rapidamente
que nem deixam volver um olhar ao caminho percorrido.
(José de Alencar, in Lucíola)

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sábado, 17 de outubro de 2009

Ao falar em arte: parte IV




As criações de M.C. Escher fascinam-me, sugam-me para um universo à parte, um mundo irreal, mas que parece real.
Já a arte de Sebastião Salgado revela a realidade, que mais parece irreal.

Sua obra África é a que mais me atrai, talvez justamente por retratar a África... Quando me perguntavam, quando criança, qual país eu gostaria de conhecer, a resposta era sempre a mesma, sem hesitar: África. Hoje, se fizerem essa indagação, a resposta será a mesma: África!




Lembro-me das primeiras fotos de Sebastião Salgado que vi.
Eu não tinha certeza de que eram fotografias.


A beleza da sua arte bem como a realidade que elas revelam nos sensibilizam, com o condão de, por vezes, nos envergonhar de sermos seres humanos...





Na Revista Cultura (edição 06 - janeiro de 2008) foi publicada uma entrevista com o 'Fotógrafo andarilho de um planeta não revelado', da qual cito um trecho.
"Quando você está em uma tribo lá no interior do Brasil, no fundo do Amazonas, vê que ela não tem nada para aprender aqui com essa sociedade. O que é essencial, já sabíamos há 5 mil anos. Já tínhamos antibióticos. Nós apenas sistematizamos e transformamos em outros componentes químicos para aumentar a quantidade, mas a base já havia. Antiinflamatório já havia. Os ianomâmis lá do interior de Roraima têm uma noção de geologia perfeita. Eles são seminômades, só vão voltar para um local em que haviam se fixado 100 anos depois, quando a floresta estiver refeita. Os problemas que temos de amar, de sofrer, de ciúme, são os mesmos. O que é interessante na preservação dessas partes do mundo é a preservação da nossa referência. Isso é muito importante. É quase impossível fazer uma projeção futura sem olhar para trás. É importante preservar a natureza, os grandes sistemas de água. O planeta não está em perigo, ele é um velho de 6 bilhões de anos, e daqui a 6 bilhões de anos ainda vai estar aqui. Quem está em perigo somos nós, nossa espécie. A questão é que devemos ser sábios o suficiente e refazer o que desfizemos. Só isso. A idéia desse projeto Gênesis é buscar essas áreas, ajudar a fazer uma nova apresentação do planeta. Minhas fotografias não têm importância. Mas as minhas fotografias somadas a este artigo, mais as informações da televisão, as organizações que estão militando, as instituições de boa vontade, passam a ser um elemento dentro disso tudo. Nos distanciamos demais do planeta. Há o fato de termos urbanizado, de nos considerarmos o único animal racional – o que é uma mentira, cada espécie tem seu racionalismo. Hoje, se discute a distribuição de renda, a destruição da floresta tropical, a poluição do oceano, a aids, tudo o que se quiser, e não encontramos soluções. Estamos meio perdidos. Nossa espécie está desencontrada. Para mim, o fator principal é que perdemos o contato com o planeta e a idéia de que somos natureza. Acreditamos que somos seres diferentes, privilegiados, com direito a consumir, destruir. Não temos esse direito. Tudo o que é destruído é um déficit. E esse déficit, outro vai pagar por você."


Caminhada nas Montanhas (Equador - 1982)


Garimpeiros trabalhando (Serra Pelada - 1986)


Índia - 1990


Pôr-do-sol (Patagônia - 1994)


Gigantes (Patagônia - 2005)


Refugiados de Ruanda (Tanzânia - 1994)


Tanzânia - 1994


Península Valdés (Argentina - 2004)


Galápagos (Equador - 2004)


Patagônia - 2005


Antártica -2005


Antártica - 2005


Delta de Okavana (Botsuana - 2007)

Sebastião Salgado nasceu no dia 8 de fevereiro de 1944 em Aimorés, Minas Gerais, Brasil. Vive em Paris. Economista de formação, começa sua carreira de fotógrafo em Paris em 1973. Trabalha sucessivamente com as agências Sygma, Gamma e Magnum Photos até 1994 quando, junto com Lélia Wanick Salgado fundam a agência de imprensa fotográfica, Amazonas images, exclusivamente devotada à seu trabalho.
Viaja em mais de 100 países para projetos fotográficos que, além de inúmeras publicações na imprensa, foram apresentados em forma de livros, tais como : Outras Américas (1986), Sahel, l’Homme en détresse (1986), Trabalhadores (1993), Terra (1997), Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo (2000) e Africa (2007). Exposições itinerantes destes trabalhos foram e continuam a serem apresentadas internacionalmente.



Ao mencionar a arte fotográfica de Sebastião Salgado, não pude deixar de lembrar fotos que ficaram impressas na minha memória, como provavelmente na memória de todos aqueles que as viram.
Uma delas é a que retrata uma menina afegã, de Steve McCurry.




Outra... bem.. essa me marcou muito... do fotojornalista sul-africano Kevin Carter, retratando em 1993 o Sudão, país atingido pela fome. Além disso, choca o fato de Kevin Carter ter se suicidado no ano seguinte, deixando registros em seu diário sobre sua depressão, falta de dinheiro e as memórias de dor, morte, medo, crianças com fome extrema...


Fontes:
Steve McCurry
Kevin Carter

2 comentários:

  1. A história de Kevin e tudo que ele passou é chocante mas suas fotos são ótimas e merece destaque. Já Steve, suas fotos saõ magníficas e seja feliz em suas viagens. talvez algum dia eu tenha a sorte de ir em pelo menos um dos lugares que ele já foi.

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  2. Olá Anônimo! Concordo contigo e também pretendo colocar os pés em algum ou alguns lugares onde estes fotógrafos artistas e com sensibilidade ímpar estiveram.

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