Rosa-dos-Ventos

No livro da vida não se volta quando se quer, a página já lida, para melhor entendê-la;
nem pode se fazer a pausa necessária à reflexão.
Os acontecimentos nos tornam e nos arrebatam às vezes tão rapidamente
que nem deixam volver um olhar ao caminho percorrido.
(José de Alencar, in Lucíola)

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domingo, 8 de novembro de 2009

Humano coração

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Se tudo quanto existe

Se tudo quanto existe
é lenta evolução,
longa transformação
sem Deus e sem mistério;
se tudo no Universo tem sentido
sem o sopro divino;
se o segredo da vida, a criação,
se explica pela ciência,
e a corrente vital
é também consequência;
se a humana consciência
é simples equação...
que significa a vocação do eterno,
que quer dizer a aspiração do Céu
e o terror do Inferno?

E se acaso é o instinto a lei da vida,
se a verdade
é só necessidade
inexorável, lenta, laboriosa,

que sábia explicação
tem esta frágil, esta inútil rosa?

(Fernanda de Castro in «Asa no espaço», 1955)


fernanda de castro

Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro (Lisboa, 8 de Dezembro de 1900 – 19 de Dezembro de 1994), foi uma escritora portuguesa.

Poetisa, romancista, dramaturga e tradutora Fernanda de Castro estreou-se aos 19 anos com o livro de poesia Ante-Manhã. Vence nesse ano (1919) o Primeiro Prémio no concurso de originais do Teatro Nacional, com a peça Náufragos. Com o romance Maria da Lua (1945) foi a primeira mulher a obter o prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa. Em 1969 é-lhe atribuido o Prémio Nacional de Poesia. Foi também tradutora de Rilke (Cartas a um Poeta), de Katherine Mansfield (Diário), de Sófocles, Pirandello, Maeterlinck e Jonesco.

Foi juntamente com o marido e outros, fundadora da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, actualmente designada por Sociedade Portuguesa de Autores.

O escritor David Mourão-Ferreira, durante as comemorações dos cinquenta anos de actividade literária de Fernanda de Castro disse: “Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite”.

Herdei uns olhos claros, sem pecado,
toda uma tradição, todo um passado,
de inocência, de amor e de perdão.
Um desejo de paz, de vida calma,
uma alma capaz de só ser alma,
E um doloroso, humano coração.
Fernanda de Castro

(Fontes: Wikipédia e Blog sobre Fernanda de Castro por Antonio Quadros Ferro)


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Quando te dói a alma

Quando estás descontente,
quando perdes a calma
e odeias toda a gente,
quando te dói a alma,

quando sentes, cruel,
o prazer da vingança,
quando um sabor a fel
te proíbe a esperança,

quando as larvas do tédio
te embotam os sentidos,
e o mal é sem remédio
e a ninguém dás ouvidos,

nega, recusa a dor,
abandona o deserto
das almas sem amor
e mergulha o olhar
em tudo o que está certo,
o mar, a fonte, a flor.

(Fernanda de Castro in «Poesia II»)

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Urgente

Urgente é construir serenamente
seja o que for, choupana ou catedral,
é trabalhar a peda, o barro, a cal,
é regressar às fontes, à nascente.

É não deixar perder-se uma semente,
é arrancar as urtigas do quintal,
é fazer duma rosa o roseiral,
sem perder tempo. Agora. Já. É urgente.

Urgente é respeitar o Amigo, o Irmão,
é perdoar, se alguém pede perdão,
é repartir o trigo do celeiro.

Urgente é respirar com alegria,
ouvir cantar a rola, a cotovia,
e plantar no pinhal mais um pinheiro.

(Fernanda de Castro in «Poesia II»)

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Eu

O homem de génio diz: eu sou.
O poderoso afirma: eu posso.
O rico diz: eu tenho.
O ambicioso: eu quero.
Eu! Eu! Eu!
E, afinal,
esses que vivem sós, completamente sós,
quanto dariam para como tu,
ou como eu,
dizerem simplesmente: nós.

(Fernanda de Castro in «Poesia I»)

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Mais um dia perdido

Há dias e que tudo é sem remédio,
em que tudo começa e acaba torto.
Uma folha caiu:
era um pásaro morto.
Neblina. Fim de tarde. Fim de Outono.
Nada nos fala, nos atrai, nos chama.
Choveu, parou a chuva,
ficou, porém, a lama.
Um banco no jardim. Árvores nuas,
um cisne velho, um tanque, água limosa,
nem a relva ficou,
quanto mais uma rosa.
Há barcos, há gaivotas sobre o rio,
e nas ruas há gente, há muitas casas.
Mais um dia perdido:
arrancaram-lhe as asas.

(Fernanda de Castro in «Urgente»)

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As flores que embelezam esta postagem integram o jardim da Dona Sonja, em Nova Petrópolis.

Litoral em outubro IV

 

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Sem sol para aquecer, o friozinho do vento já não permitia vaguear sem antes buscar um agasalho.

A caminho da pousada, minha atenção foi chamada diversas vezes pela beleza da Natureza, que manifesta seu esplendor de uma forma singela, em pequenos detalhes.

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Uma espécie um tanto enigmática.

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Já estas exalam simpatia.

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Sorrisos em forma de flor

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E que sorriso!

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Perfeição, harmonia, beleza, esplendor…

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Esta fachada remeteu-me a um tempo em que a simplicidade talvez estivesse mais presente, as horas andavam e não corriam, o respeito e a gentileza ainda faziam parte do dia-a-dia.

Morou talvez nesta casa um homem solitário que estudava seus livros e passava as noites à luz de velas bebericando licor e escrevendo cartas para seus entes queridos distantes? Ou um casal que na rua se mostrava bastante casto, mas no recôndito da casa desnudava a própria paixão?

 


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Na manhã seguinte, novamente nada era prometido.

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Entretanto, sem ser anunciado, o sol deixou-se contemplar ao surgir no horizonte.

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Mas apenas por breves instantes…

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… pois tímido logo se escondeu no meio das nuvens.

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A espiar o que os homens faziam nessa parte da Terra, decidia se brilharia por inteiro ou apenas deixaria alguns raios alcançarem o mar e o que mais bem entendesse, sempre em cumplicidade com as nuvens.

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Litoral em outubro III


 

O dia nasceu nublado, apenas revelando que o sol estava nascendo, mas sem prometer dissipar as nuvens.



Sem promessa, sem expectativa, como gosto: prefiro não ter uma expectativa e ser surpreendentemente agraciada depois a aguardar quem sabe ansiosa pelo que foi prometido - que, ao não se concretizar, deixa um sabor amargo, beirando o desarrimo.
 
Mas a Natureza não se importa com o fato de o dia estar nublado, ensolarado, chuvoso… Deixa sua beleza despontar sob qualquer circunstância (desde que o homem, é claro, não interfira).





O orvalho ainda não deixara as flores, como o amante que, já tendo amanhecido, ainda quer sentir e beijar a pessoa amada por mais alguns momentos antes de partir.




 



Depois de alimentar o corpo com um generoso café da manhã e a alma com essas pequenas porém esplendorosas obras de arte, fui para a praia, caminhar na areia.



A caminho dos Molhes conheci o Penacho, um cavalo que recebe um tratamento carinhoso de seu dono, tal como merecem todos os animais desta Terra. Não serve para trabalho, é companheiro e amigo do seu dono, cuja mão lambia, seguindo-o logo que este fazia menção de se afastar.


Feliz com seu companheiro, Seu Luiz (se não me enganei quanto ao seu nome) contou-me que em razão da companhia do Penacho recobrou a sua saúde e voltou a ter uma vida feliz, depois de seu médico ter-lhe noticiado que seu estado de saúde não lhe permitiria mais muito tempo de vida.




Cheguei aos Molhes.

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“Os molhes foram construídos de 1968 a 1970 para fixação da foz do rio e para facilitar a saída de barcos pesqueiros. Tem a extensão de 250 metros e por falta de verba a construção está inacabada, seriam necessários mais duzentos metros de cada lado. Antigamente a foz do rio situava-se mais ao norte, com a construção dos molhes formou-se um braço morto e as terras situadas entre a antiga e a nova foz pertencem a marinha.”
(Fonte: site da cidade de Torres)

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Achei que poderia registrar o momento em que as ondas, ao encontrarem os molhes, levantam no ar, mostrando sua força e beleza, mas justamente nesses momentos, “instintivamente”, protegia a câmera fotográfica, recolhendo-a para evitar receber algum respingo…

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Um único biguá à procura de uma refeição

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A cidade de Torres vista dos molhes
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MARINHA DO BRASIL
SERVIÇO DE SINALIZAÇÃO NÁUTICA DO SUL
FAROLETE MAMPITUBA SUL

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Muito frio, muito vento, mas o mar era convidativo... Ainda que a água estivesse gelada, ela era esperada pelo meu corpo, que não declinaria o convite para banhar-se.

Depois de acostumar o corpo quente do sol e da caminhada à água frrrrria (inicialmente achei que o corpo todo ia ter cãibra!), não pensava em sair da água.
No entanto, como tinha agendado meu primeiro vôo (duplo) de paraglider para aquela hora, eu precisava seguir adiante. Não queria perder essa diversão! 

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Subindo o Morro do Farol, um cantor vigoroso e incansável marcava sua presença.

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  IMG_2174Vista do Morro do Farol.

“É conhecido por Morro do Farol devido à construção do primeiro farol em 1912, que objetivava a sinalização de terra aos navegantes. Antigamente era chamado de Torre Norte, por ser a primeira torre que se avista no sentido norte-sul.
O objetivo desse farol é sinalizar a existência de terras aos navegantes. Esse farol, uma construção de madeira, com uma roda em cima, tendo esta roda janelas coloridas em vermelho, amarelo e branco, que giravam em torno de um lampião a gás, caiu durante uma forte tempestade em 1935.
O farol atual possui 18 metros de altura, acendendo de 8 em 8 segundos, sendo visto em noites claras a uma distância de 8 milhas marítimas ou 12 Km.
O chapadão mais elevado tem cerca de 600 metros de largura e sua altitude superior de 46 metros e meio. Ao pé do morro, no lado do mar, existe uma gruta, de Nossa Senhora Aparecida e uma fonte de água puríssima.
Antigamente o cemitério da cidade se localizava no Morro do Farol, junto ao farol, exatamente no local onde atualmente existem as torres de transmissão.”

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O antigo farol.
 
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Como o vento havia aumentado muito, Claudio ou Bombeiro, como é chamado (ex-bombeiro e profissional em vôos de paraglider e paramotor), abortou a idéia quanto ao passeio de paraglider, mas poderíamos passear com o paramotor.

Ok! Não queria deixar de vislumbrar o litoral a partir de um ângulo um pouco mais elevado.

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Foi um vôo duplo (o profissional e eu num mesmo equipamento). Subimos rapidamente devido à força do vento.

Achei que não tiraria fotos, pois estava literalmente boquiaberta diante da beleza da paisagem que me circundava.

Mas não queria deixar de registrar, e fotografei a imagem desse mar que encanta, quase hipnotiza quem admira sua imponência e sublimidade.

IMG_2186Morro do Farol

IMG_2190Vista para o sul – Morro das Furnas

“A mais importante das torres por seu tamanho é a do meio, também conhecida por Morro das Furnas. Fica a 600 metros do Farol separadas pela Praia da Cal.
É um tabuleiro alongado, com 135.000 m2 de superfície superior. Toda a encosta oriental compõe-se de falésias perpendiculares, batidas no sopé pelas ondas do mar: aí estão as furnas, tão famosas e admiradas.
O ponto culminante de Torres, a 66 metros de altitude, encontra-se no primeiro dos dois cumes que formam o dorso da chapada, atrás do capitel. A pontezinha é a mais conhecida, dali se contempla o curioso arco de pedra chamado Portão. Poucos tem a possibilidade de descer até a enseada atrás do Portão para observar de perto as furnas inacabadas, escavadas a um milhão de anos por um mar que era 5 a 8 metros mais alto que hoje.
Em cima do morro, primeiro você passará pelo alto do Portão, de onde terá uma vista da enseada de cima. Depois passará pelas furnas da Garagem, que é um dos pontos mais fotografados de Torres. Próximo a Lagoinha dos Suspiros, um capitel com uma cruz o convida a oração, já estimulada pela majestade do cenário. O acesso as furnas não constitui qualquer problema. Há escadas de concreto com corrimões. Nem todos sabem que a furna grande é a menor delas (à esquerda de quem desce a primeira escada) a Furninha é a maior (à direita).
Os nomes foram consagrados há muito tempo. Na verdade a furna grande nem existe, é apenas um começo de gruta em que cada onda produz um estouro de ar comprimido quando penetra e uma bela cascata quando escoa. Ao descer a outra escada, você chega a uma plataforma quase ao nível do mar: é o diamante. A esquerda está a boca da Furna do Diamante, em que a lenda diz estar escondido um diamante preciosíssimo.”
 
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imageVista para o sul na década de 60.
 
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Deleitei-me com o contorno das falésias!

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IMG_2225A praia da Guarita

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A Lagoa Itapeva, em meio à nevoa, também pôde ser avistada

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Braço do Morro das Furnas (em direção ao norte)

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Foi o máximo que conseguimos nos aproximar da Ilha dos Lobos – espero em outra oportunidade aproximar-me mais.

“A Ilha dos Lobos é a única Reserva Ecológica do país onde existem lobos ou leões marinhos. A Ilha em si é um fenômeno geológico, sendo uma continuação da Serra Geral que corta o Brasil.
É o paradouro e local de acasalamento de lobos marinhos, e por isso é proibido qualquer tipo de pesca ou caça marinha, bem como o desembarque.”

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Era hora de retornar…

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Morro do Farol – ponto de partida do nosso curto mas rico vôo

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Mirando novamente o mar rumo ao sul

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O vento não permitiu que descêssemos sobre o Morro do Farol, de modo que pousamos na praia.

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Cláudio, ainda com o paramotor preso ao corpo.

Vale a pena conferir algumas aventuras do pessoal que voa no portal de informações da cidade de Torres!