Rosa-dos-Ventos

No livro da vida não se volta quando se quer, a página já lida, para melhor entendê-la;
nem pode se fazer a pausa necessária à reflexão.
Os acontecimentos nos tornam e nos arrebatam às vezes tão rapidamente
que nem deixam volver um olhar ao caminho percorrido.
(José de Alencar, in Lucíola)

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

BR 116 interditada


A estrada que liga Nova Petrópolis a Caxias do Sul, a BR 116, estava interditada, e um compromisso dominical exigiu que fosse tomado um itinerário um pouco mais longo, de chão batido, pelo interior das cidades: êba!

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Sem possibilidade de parar para sacar fotos, brinquei com a câmera sacando fotos com o carro em movimento, com a certeza de que não renderia nenhuma fota para contar história... Para minha surpresa, embora o dia nublado não tenha contribuído com lindos tons na retratação da paisagem, gostei das imagens que obtive na brincadeira.

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Encontrei uma espécie desconhecida para mim.

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E outra bem familiar…

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Lembranças vagas da infância a fachada dessa casinha me traz... Encontrando-a em meio à névoa, meus pensamentos vaguearam... topando com a simplicidade, com a nostalgia, com um viver intenso, com a transformação, com a saudade...





Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Pablo Neruda

domingo, 8 de novembro de 2009

Humano coração

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Se tudo quanto existe

Se tudo quanto existe
é lenta evolução,
longa transformação
sem Deus e sem mistério;
se tudo no Universo tem sentido
sem o sopro divino;
se o segredo da vida, a criação,
se explica pela ciência,
e a corrente vital
é também consequência;
se a humana consciência
é simples equação...
que significa a vocação do eterno,
que quer dizer a aspiração do Céu
e o terror do Inferno?

E se acaso é o instinto a lei da vida,
se a verdade
é só necessidade
inexorável, lenta, laboriosa,

que sábia explicação
tem esta frágil, esta inútil rosa?

(Fernanda de Castro in «Asa no espaço», 1955)


fernanda de castro

Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro (Lisboa, 8 de Dezembro de 1900 – 19 de Dezembro de 1994), foi uma escritora portuguesa.

Poetisa, romancista, dramaturga e tradutora Fernanda de Castro estreou-se aos 19 anos com o livro de poesia Ante-Manhã. Vence nesse ano (1919) o Primeiro Prémio no concurso de originais do Teatro Nacional, com a peça Náufragos. Com o romance Maria da Lua (1945) foi a primeira mulher a obter o prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa. Em 1969 é-lhe atribuido o Prémio Nacional de Poesia. Foi também tradutora de Rilke (Cartas a um Poeta), de Katherine Mansfield (Diário), de Sófocles, Pirandello, Maeterlinck e Jonesco.

Foi juntamente com o marido e outros, fundadora da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, actualmente designada por Sociedade Portuguesa de Autores.

O escritor David Mourão-Ferreira, durante as comemorações dos cinquenta anos de actividade literária de Fernanda de Castro disse: “Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite”.

Herdei uns olhos claros, sem pecado,
toda uma tradição, todo um passado,
de inocência, de amor e de perdão.
Um desejo de paz, de vida calma,
uma alma capaz de só ser alma,
E um doloroso, humano coração.
Fernanda de Castro

(Fontes: Wikipédia e Blog sobre Fernanda de Castro por Antonio Quadros Ferro)


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Quando te dói a alma

Quando estás descontente,
quando perdes a calma
e odeias toda a gente,
quando te dói a alma,

quando sentes, cruel,
o prazer da vingança,
quando um sabor a fel
te proíbe a esperança,

quando as larvas do tédio
te embotam os sentidos,
e o mal é sem remédio
e a ninguém dás ouvidos,

nega, recusa a dor,
abandona o deserto
das almas sem amor
e mergulha o olhar
em tudo o que está certo,
o mar, a fonte, a flor.

(Fernanda de Castro in «Poesia II»)

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Urgente

Urgente é construir serenamente
seja o que for, choupana ou catedral,
é trabalhar a peda, o barro, a cal,
é regressar às fontes, à nascente.

É não deixar perder-se uma semente,
é arrancar as urtigas do quintal,
é fazer duma rosa o roseiral,
sem perder tempo. Agora. Já. É urgente.

Urgente é respeitar o Amigo, o Irmão,
é perdoar, se alguém pede perdão,
é repartir o trigo do celeiro.

Urgente é respirar com alegria,
ouvir cantar a rola, a cotovia,
e plantar no pinhal mais um pinheiro.

(Fernanda de Castro in «Poesia II»)

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Eu

O homem de génio diz: eu sou.
O poderoso afirma: eu posso.
O rico diz: eu tenho.
O ambicioso: eu quero.
Eu! Eu! Eu!
E, afinal,
esses que vivem sós, completamente sós,
quanto dariam para como tu,
ou como eu,
dizerem simplesmente: nós.

(Fernanda de Castro in «Poesia I»)

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Mais um dia perdido

Há dias e que tudo é sem remédio,
em que tudo começa e acaba torto.
Uma folha caiu:
era um pásaro morto.
Neblina. Fim de tarde. Fim de Outono.
Nada nos fala, nos atrai, nos chama.
Choveu, parou a chuva,
ficou, porém, a lama.
Um banco no jardim. Árvores nuas,
um cisne velho, um tanque, água limosa,
nem a relva ficou,
quanto mais uma rosa.
Há barcos, há gaivotas sobre o rio,
e nas ruas há gente, há muitas casas.
Mais um dia perdido:
arrancaram-lhe as asas.

(Fernanda de Castro in «Urgente»)

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As flores que embelezam esta postagem integram o jardim da Dona Sonja, em Nova Petrópolis.

Litoral em outubro IV

 

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Sem sol para aquecer, o friozinho do vento já não permitia vaguear sem antes buscar um agasalho.

A caminho da pousada, minha atenção foi chamada diversas vezes pela beleza da Natureza, que manifesta seu esplendor de uma forma singela, em pequenos detalhes.

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Uma espécie um tanto enigmática.

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Já estas exalam simpatia.

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Sorrisos em forma de flor

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E que sorriso!

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Perfeição, harmonia, beleza, esplendor…

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Esta fachada remeteu-me a um tempo em que a simplicidade talvez estivesse mais presente, as horas andavam e não corriam, o respeito e a gentileza ainda faziam parte do dia-a-dia.

Morou talvez nesta casa um homem solitário que estudava seus livros e passava as noites à luz de velas bebericando licor e escrevendo cartas para seus entes queridos distantes? Ou um casal que na rua se mostrava bastante casto, mas no recôndito da casa desnudava a própria paixão?

 


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Na manhã seguinte, novamente nada era prometido.

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Entretanto, sem ser anunciado, o sol deixou-se contemplar ao surgir no horizonte.

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Mas apenas por breves instantes…

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… pois tímido logo se escondeu no meio das nuvens.

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A espiar o que os homens faziam nessa parte da Terra, decidia se brilharia por inteiro ou apenas deixaria alguns raios alcançarem o mar e o que mais bem entendesse, sempre em cumplicidade com as nuvens.

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