Rosa-dos-Ventos

No livro da vida não se volta quando se quer, a página já lida, para melhor entendê-la;
nem pode se fazer a pausa necessária à reflexão.
Os acontecimentos nos tornam e nos arrebatam às vezes tão rapidamente
que nem deixam volver um olhar ao caminho percorrido.
(José de Alencar, in Lucíola)

______________________________________________________________________________________

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ano novo



Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos.
Luís Vaz de Camões



O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
Luís Vaz de Camões 




Luís Vaz de Camões. Poeta Português, nascido entre 1517 e 1525, morreu em 10 de junho de 1580 em Lisboa, Portugal.
É frequentemente considerado como o maior poeta de língua portuguesa e dos maiores da Humanidade.
(wikipedia.org)



  De fato, um poeta que se distinguiu, pois quem nunca leu ou ouviou "Amor é fogo que arde sem se ver"?



Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?



Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.